quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Opiniões #3 - 2 Coelhos


Opiniões #3 – 2 Coelhos (Brasil, 2012).
Por Marlon Fonseca



            2 Coelhos chegou aos cinemas nacionais enfrentando certa desconfiança pela sua qualidade. Primeiramente pela prévia, exaustivamente veiculada nos cinemas, que se apresentou com muito esmero técnico, porém aparentando não ter conteúdo ou sentido em sua forma. Em segundo lugar, pela própria postura (errônea) do público em aceitar bem esse tipo de filme vindo de fora, mas não abraça-lo quando vindo do próprio país ante a (novamente errônea) descrença pela qualidade do cinema pátrio.

            O público brasileiro e alguns realizadores, apesar do aumento exponencial em qualidade, lançamento e reconhecimento ainda enfrentam o receio de ousar e extrapolar alguns temas e gêneros ficando presos a algumas “fórmulas” mais seguras (e lucrativas).

            Felizmente, quem for conferir o filme será positivamente surpreendido. Mesmo cercado de referências á vários filmes e cineastas, “2 Coelhos” apresenta identidade e qualidade próprias.

             Assim somos apresentados a Edgar e seu “plano” mirabolante. A trama do filme é contada de forma não linear, sob a visão de vários envolvidos e, aos poucos, o espectador vai entendo as motivações de cada personagem.

            Aliás, é plenamente recompensador ver como as peças do jogo vão sendo mostradas das mais variadas formas possíveis (seja pela narração em off do protagonista, por flashback ou pela expressão dos atores) e vão se encaixando aos poucos, de forma orgânica e não parecendo (muito) forçado.[1]

            Fato que saltou aos olhos pela exibição no trailer do filme é a grande quantidade, qualidade e variedade de efeitos especiais. Não seria exagero dizer que se trata do filme nacional a mais utiliza-los de forma tão explícita e variável.

            Mas se no começo a utilização excessiva e variada dos efeitos possa causar certa estranheza ao público (como se fosse uma forma de o diretor mostrar “de cara” toda a sua perícia) no decorrer do filme eles aprecem de forma mais gradativa e aderente á trama. As cenas de tiroteio e perseguições também são muito bem executadas.

Mesmo apegado aos meandros narrativos e ao aspecto visual, o diretor não esquece de seu elenco que brilha em sua totalidade. Fernando Alves Pinto conseguiu segurar a responsabilidade de protagonizar o filme e o fez com competência. Alessandra Negrini encarnou com o talento de sempre todas as facetas de sua personagem Paula e Caco Ciocler entrega uma das melhores atuações de sua carreira (senão a melhor).

Mas para tudo isso funcionar vem a cereja do bolo: a montagem. Extremamente eficaz, o filme mesmo com suas idas e vindas do roteiro não perde o ritmo em segundo algum, mantendo o interesse do espectador intacto até o final.

O longa, portanto, não mata somente 2 mas vários coelhos com uma cajadada (ou caixa d´água se prefirerem) só: apresenta ao público o talento do diretor Afonso Poyart, brinda o público com uma experiência cinematográfica interessante, dá um passo á frente para o cinema nacional mostrando tanto para o público como para os realizadores que ainda não entenderam que o pais pode e faz cinema com qualidade e diante disso encoraja novos talentos a nos brindar com empreitadas mais ousadas.





Cotação: 


Fica Técnica: 2 Coelhos, Brasil 2012. Policial, Ação. Direção: Afonso Poyart. Elenco: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Neco Villa Lobos, Roberto Marchese. Duração: 108min.





Obs: Caçar as referências contidas nesse filme pode ser uma diversão a mais ao assisti-lo. As que captei foram:estilo narrativo de Tarantino e Guy Ritchie. As alucinações de Júlia (Alessandra Negrini) lembram muito algumas cenas de Sucker Punch dirigido por Zack Snyder além de algumas técnicas que o mesmo utiliza em seus filmes. As pombas de John Woo (para quem não sabe o diretor costuma incluir alguma cena com pombas voando em seus filmes). A cena dentro de um jogo de videogame (a cara do GTA) como em A praia com Leonardo Dicaprio. Além de citações pop mundiais como Star Wars, Guitar Hero e uma bem peculiar e brasileira a infame música “Sou foda”.



[1] A Motivação completa do protagonista pode ser entendida mais profundamente se juntarmos a narração em off que abre o filme; com a sua expressão (e entonação de sua narração em off ) na cena do Tribunal e o belíssimo texto lido pelo personagem de Ciocler aos seus alunos perto do final do filme.

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